Desde a década de 70, quando as montadoras automotivas começaram a robotizar suas linhas de produção e tais imagens começaram a ser divulgadas, o mundo se impressionou e vislumbrou que, num futuro bem próximo, os robôs, cada vez mais, fariam parte do trabalho das empresas, sendo capazes de fazer qualquer tipo de tarefa feita antes pelo homem, só que melhor e sem se cansar.
Desde então, a robótica e as tecnologias que a sustentam vêm apresentando avanços fantásticos, com máquinas cada vez mais sofisticadas e inteligentes.
Além de povoar nossa imaginação, essa presença cresce cada vez mais também na vida real. Já há robôs atualmente para quase tudo: para apagar incêndios, para abastecer tanques de veículos, para pegar e movimentar materiais, para fazer espionagem e até já se fala numa “lista de profissões” que, dizem os analistas visionários, poderão ser substituídas pelos robôs.
Prova disso é que, na mais recente feira de Hannover, na Alemanha, a mais importante feira de tecnologia do mundo, os pavilhões que mais chamaram a atenção, principalmente da imprensa mundial, foram os que mostraram os mais avançados robôs em ação.
Mas é preciso esclarecer uma ideia equivocada que parece permear o mundo atual, principalmente o corporativo: a de que um robô necessariamente será melhor do que um ser humano na execução de uma tarefa.
Trata-se de um engano. E pode ser “muito pelo contrário”.
Por mais eficiente que um robô possa ser, dificilmente, pelo menos em médio prazo, ele poderá substituir a “inteligência produtiva” de um trabalhador humano.
Primeiro porque, até que se prove que a inteligência artificial será realmente possível e viável, robôs, em princípio, não pensam. Apenas executam o que nós, seres humanos, programamos que eles façam.
A capacidade de pensar, em todas as suas nuances e complexidades, ainda é única do ser humano. E não há máquina capaz de tomar decisões melhores do que um cérebro humano.
Numa empresa, então, a capacidade de analisar o próprio trabalho e fazer melhorias nos processos são atitudes tipicamente humanas e que jamais poderão se feitas por uma máquina.
Recentemente, foi divulgada uma matéria dizendo que a Toyota, maior montadora do mundo e, ainda, a mais eficiente de todas, está “trocando seus robôs por homens” no Japão.
Impressionada com o fato, boa parte da imprensa brasileira “se surpreendeu” com tal informação. E muitos qualificaram que a empresa estaria “remando contra a maré” ou “nadando contra a corrente”.
Sobre tal fato, o jornal O Estado de São Paulo, por exemplo, publicou que, ao fazer tal troca, a Toyota afirmou querer “incentivar seus funcionários para que eles possam desenvolver novas habilidades e descobrir maneiras de melhorar o processo de produção e as linhas de montagem.”
A ideia é justamente essa: somente o ser humano possuiu a capacidade de melhorar seu trabalho. De fazer melhor hoje o que fazia ontem. De encontrar e eliminar desperdícios. De rever os processos e eliminar retrabalhos. De incrementar a qualidade. E é isso que cada vez mais fará a diferença no mundo das empresas. E não necessariamente através de robôs.
De forma similar, o uso exagerado de tecnologias de informação, por exemplo na área administrativa das empresas, muitas vezes só gera mais problemas do que soluções.
Computadores e os sistemas de informação são fundamentais, mas se utilizados inadequadamente serão fontes de desperdícios e ocasionarão novos problemas. E não poderão jamais superar o pensamento humano, na análise sobre como entender uma situação, como elaborar um plano, como desdobrá-lo etc.
Um robô, por exemplo, jamais será capaz de analisar o trabalho que está sendo feito, conversar com as pessoas que executam as tarefas, fazer perguntas sobre os problemas, incentivá-las a resolver e melhorar suas tarefas.
Uma empresa deve estimular o desenvolvimento do potencial humano, para que ele possa criar coisas que ajude a fazer o trabalho da melhor maneira possível. E, para isso, ainda temos um enorme caminho pela frente. As empresas precisam tornar-se centros práticos de aprendizado permanente através do próprio trabalho.
Nesse sentido, a máquina, seja qual for, será sempre fundamental. Mas como uma “ferramenta” ou apoio que deverá ser programada e usada pelo ser humano para ajudá-lo a resolver problemas e executar ou melhorar seu trabalho. Nunca para substituí-lo. Pessoas pensam e criam. Máquinas apenas executam.
Fonte: Época Negócios.